segunda-feira, 1 de abril de 2013

Se me tiram o chão, eu crio asas...

Há uma luz que guia o caminho. Ela está refletida nos olhos do amor que dura, do amigo de todo dia... No papel, um vazio. Um sempre em branco. Há tanto tempo a pena não funcionava.
O espanto foi que o encanto tinha mudado de lugar. A poesia foi morar no profundo olhar, na luz dos olhos... Parecia curioso porque aquele brilho sempre a acompanhou. Sempre houve poesia no ar. Talvez a menina desaprendera a linguagem dos olhos. Esqueceu de olhar demorado, de ver além...
Na janela, o vento sopra canções que salvam, em tom maior. Nelas, letras que fazem regressar. As mãos que alcançam são as mesmas que cuidam...
Sabia que sentiria saudades da tardes de verão. Sabia que o pôr do sol seria diferente, com a mesma beleza, mas diferente. A linha do horizonte era algo difícil de alcançar. Um perto que era distante. A trilha é paralela. A dificuldade da interseção mora no limite. Preferiu o eterno brilho das estrelas à explosão dos fogos de artifício. O contemplar, de longe, bastava...
A menina que por tanto tempo andou nos trilhos do trem, desceu na próxima estação. Colocou os pés na areia fina da praia, deixou que a espuma do mar a tocasse pela última vez, suspirou, voou e voltou para seu ninho...
Ali, no (en) canto dos olhos, viu que, silenciosamente, o amor compunha a tão esperada canção. Aquela que tocaria por toda a vida...O toque, o sabor, o tom de voz. O amor reaparece nos lugares mais inusitados. A menina que sonhava tão alto, agora sabe que seu canto mora ao lado. A música de antigamente fez lembrança na alma.
Fechou a janela. Olhou para trás apenas para eternizar os momentos vividos...Abriu a cortina dos sonhos. A luz que brilhou dentro foi capaz de poetizar a vida e fazer brotar as flores na estrada. Nas mãos que entrelaçaram e nos pés que caminhavam juntos, uma única estrela brilhou naquele céu de outono. Em um domingo santo, a menina viu que foi preciso morrer para a vida voltar acontecer...


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