quarta-feira, 20 de março de 2013

Me nino...

Hoje eu quis brincar sozinha. Deixei minhas bonecas em casa. Levei apenas meu barquinho de papel. Foi meu pai que me deu. Saí. Andei e parei no riacho bem pertinho da minha casa. Peguei meu lápis e escrevi alguns versos naquele papel dobrado. Eu gosto quando o cabelo dele cai sobre os olhos. Há mistérios  que encantam a alma. O jeito dele tirar os fios do rosto me faz  sorrir. Acho que ele gosta do laço de fita que minha mãe sempre coloca nos meus cachinhos. Vi pelo desenho que ele entregou à professora. Mas, agora isso nem tem tanta importância. Quero mesmo é colocar meu barquinho cheio de versos bonitos e torcer para que ele ancore no porto dos olhos dele. Gosto da maneira que eles brilham. Nem ligo se meu pequenino barco é frágil. O que ele carrega é forte o bastante para alcançá-lo.Vai, diga a ele que meu amor espera pelo tempo, ao vento...
Na terceira margem do doce rio, eu me nino e adormeço. Quero estar nos sonhos dele quando o navio ancorar...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulher...



Em tons reais, a pureza dos sonhos. Na complexidade do ser, a simplicidade da alma. É ponto de luz que clareia uma vida. É estrada de ferro salpicada de flores. Tem na profundidade do saber, a delicadeza dos sabores. Mulheres e seus contrários. Tão frágeis! Tão fortes! Com sua doçura e força é capaz de fazer amanhecer em plena escuridão. Mulher...Que respira fé e transpira sorrisos. Sua canção é feita em Sol Maior. Música que  aquece, embala e ilumina. Mulher é farol que guia, seguro porto que acolhe. É mapa da alma traçado pelos versos de Deus...Tem na firmeza do olhar, a poesia que acalma. Mãos que trabalham. Mãos que tecem a vida com os fios da esperança. Mulher é aquela que voa alto, que alcança as nuvens, que colhe estrelas, mas sempre com os pés enraizados no chão. Seus olhos refletem a paz. Seus braços estendidos para o perdão, para o amor e para o abraço que faz morada...Ah, mulher! Bem-aventurada é você que no emaranhado de dor e alegria sabe ensinar que “lutar e viver” é possuir o dom da “estranha mania de ter fé na vida”...
Nós, Rotarianas do Rotary Club de Lavras-Sul, parabenizamos todas as mulheres que sabem ver beleza nos avessos e direitos...Feliz Dia Nosso! Feliz Dia das Mulheres!...
                                    Texto: Chrystiani Capelli, presidente eleita RCLS  2013-2014.

domingo, 3 de março de 2013

Uma varanda sob o silêncio...

Foto: chrys capelli


             Quando as vozes do mundo se calam, é hora de vivenciar as pausas da música. Convoco as lembranças. Viajo no tempo...
            O que vejo impressiona-me. Ali, no alto da serra, um pai de família caminha no escuro. Já conhece as pedras que daquele trajeto fazem parte. Conhece as curvas, o relevo irregular, os perigos daquela trilha em meio à mata escura. Após um dia de luta na labuta, ele carrega no ombro seus cansaços e suas ferramentas de trabalho. Tem um andar vagaroso, mas firme e determinado em chegar a seu lar. Os filhos, ansiosos pelo abraço caloroso do pai, sabem que em breve muitos sorrisos serão saboreados à beira do fogão de lenha. Chegar em casa é refúgio para alma. Lugar onde os sonhos ganham vida e verdade. Um oásis.  Ali, onde o amor faz morada, todos os pesos são esquecidos, porque a felicidade tem o dom de nos deixar leves. De criar asas. De alcançar as nuvens com os pés em terra firme. De mansinho, ele abre a porteira e em plena escuridão avista a luz fraca da varanda da pequena casa atrás dos montes.  Ele fixa os olhos na tentativa de certificar que ela já está à sua espera. Uma varanda, o silêncio e uma beleza que clareia os caminhos da vida. O cenário é o mesmo: vestido até os joelhos, cabelos presos, um livro, o silêncio e um sorriso sorrateiro como se já se encantasse com a chegada do amado. Abrir a porteira é o mesmo que tocar as estrelas. O encontro. A vida simples e bela. Eles aprenderam que felicidade e sonhos precisam de pés que caminham juntos, de mãos que se entrelaçam e um silêncio que decifra as palavras ditas pelo olhar...
          Sinto que Deus chegou de levinho, pendurou o chapéu na parede, ajeitou o banquinho, pegou o violão e fez uma canção. De longe, vejo que o horizonte mostra a silhueta da serra e por trás dela, uma história perpassa o tempo. Contemplo o luar. O silêncio me fala muito de Deus. Retira meus olhos da escuridão e me faz admirar as estrelas. Precisei dar a volta dentro de mim para perceber que silêncios e palavras se completam. Sábio é aquele que entende os recados que a quietude fala e desvenda a mansidão das palavras polvilhadas pela alma. Não temo a escuridão. Os vaga-lumes me mostram que é possível enfrentá-la, mesmo com uma luz pequenina. A esperança é essa menina de olhos verdes, que pede carona nas estradas da vida. Quando ela acena, a fé entra em cena...
          Anoiteço. Feliz pela visita de Deus. E nos primeiros fios de luz, minha alma já estava alinhavando sonhos...Amanheci!...

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sábado, 2 de março de 2013

Vida tecida de palavras...

                   A tarde cai e com ela a chuva fina vai deixando seu cheiro de mato. Os versos, antes na poeira da estrada cinzenta, agora escorrem pelas margens floridas, prontos para serem recolhidos e guardados na alma. A luz vai descendo atrás dos montes. A chuva já cumpriu seu doce papel de fecundar a terra. O cenário vai sendo montado deixando as pequenas luzes estrelarem na escuridão do firmamento. Ao longe, as cordas de um violão são dedilhadas por mãos que querem voar...
Ali, no meio do mato, a casinha durante a noite é dourada. Na varanda, ao pé da escada, contos e prantos que viram cantos. Onde o estalar da lenha no fogão acende a chama da fé. São vidas narradas. Histórias vividas. O singular alinhavado no plural. Emaranhado de nós que um dia deixará saudade. Em meio a tantos risos, um olhar que procura um porto. Uma folha em branco onde possa ancorar seus sonhos. Uma criança brinca com bolinhas de sabão e descobre, na demora do olhar, que a beleza é passageira. Já tem olhos de poesia. Olhos de amar...Um cachorro, uma coruja, um grilo que tenta acompanhar a cantoria da noite. Por trás das montanhas, o único sinal é a fumaça que sai da chaminé deixando rastro de esperança. No ritmo das cordas, a lua se enche de melodia e reluz lembranças em Sol maior. Aos poucos, as vozes se cansam. O violão se cala e o silêncio reverbera. É hora de recolher os poemas deixados na estrada. Hora de convocar as saudades. Olhei para céu. A cada verso pautado, uma estrela vem morar na minha mão...
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