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Foto: chrys capelli |
Quando as vozes do
mundo se calam, é hora de vivenciar as pausas da música. Convoco as lembranças.
Viajo no tempo...
O que vejo
impressiona-me. Ali, no alto da serra, um pai de família caminha no escuro. Já
conhece as pedras que daquele trajeto fazem parte. Conhece as curvas, o relevo
irregular, os perigos daquela trilha em meio à mata escura. Após um dia de luta
na labuta, ele carrega no ombro seus cansaços e suas ferramentas de trabalho.
Tem um andar vagaroso, mas firme e determinado em chegar a seu lar. Os filhos,
ansiosos pelo abraço caloroso do pai, sabem que em breve muitos sorrisos serão
saboreados à beira do fogão de lenha. Chegar em casa é refúgio para alma. Lugar
onde os sonhos ganham vida e verdade. Um oásis.
Ali, onde o amor faz morada, todos os pesos são esquecidos, porque a
felicidade tem o dom de nos deixar leves. De criar asas. De alcançar as nuvens
com os pés em terra firme. De mansinho, ele abre a porteira e em plena
escuridão avista a luz fraca da varanda da pequena casa atrás dos montes. Ele fixa os olhos na tentativa de certificar
que ela já está à sua espera. Uma varanda, o silêncio e uma beleza que clareia
os caminhos da vida. O cenário é o mesmo: vestido até os joelhos, cabelos
presos, um livro, o silêncio e um sorriso sorrateiro como se já se encantasse
com a chegada do amado. Abrir a porteira é o mesmo que tocar as estrelas. O
encontro. A vida simples e bela. Eles aprenderam que felicidade e sonhos
precisam de pés que caminham juntos, de mãos que se entrelaçam e um silêncio
que decifra as palavras ditas pelo olhar...
Sinto que Deus chegou de levinho,
pendurou o chapéu na parede, ajeitou o banquinho, pegou o violão e fez uma canção.
De longe, vejo que o horizonte mostra a silhueta da serra e por trás dela, uma
história perpassa o tempo. Contemplo o luar. O silêncio me fala muito de Deus.
Retira meus olhos da escuridão e me faz admirar as estrelas. Precisei dar a
volta dentro de mim para perceber que silêncios e palavras se completam. Sábio
é aquele que entende os recados que a quietude fala e desvenda a mansidão das
palavras polvilhadas pela alma. Não temo a escuridão. Os vaga-lumes me mostram
que é possível enfrentá-la, mesmo com uma luz pequenina. A esperança é essa
menina de olhos verdes, que pede carona nas estradas da vida. Quando ela acena,
a fé entra em cena...
Anoiteço. Feliz pela visita
de Deus. E nos
primeiros fios de luz, minha alma já
estava alinhavando sonhos...Amanheci!...
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