quinta-feira, 6 de junho de 2013

O passageiro do trem...





             Quase todas as manhãs ele passava por aquela estação. Seu jeito leve de andar chamava minha atenção. Pude observar, pela pequena fresta do chapéu, que a luz que carrega nos olhos era capaz de iluminar aquela pacata vila do interior. Sentava sempre no último vagão, aquele que antecedia o carro de cargas. Tinha um sorriso suave e misterioso. Só conseguia percebê-lo quando levantava a cabeça do seu bloco de anotações e sorria, por algum motivo que eu desconhecia. Passei a chegar mais cedo para iniciar minhas atividades no armazém “Secos e Molhados”. O trem saía às onze da manhã e às dez horas eu já estava sentada no banco de madeira da pequena estação. Na parede, o cartaz anunciava que o cinema falado tinha chegado na grande cidade. “A corrida do Ouro” era o tão esperado filme que iria atrair, não só olhares das pessoas da capital, como também dos vilarejos vizinhos. Eu carregava comigo alguns pedaços de pão para alimentar os passarinhos que ficavam à margem dos trilhos, minutos antes do trem apitar. Às vezes, eu o via escrevendo no estreito bloco que tirava do bolso do terno preto. Eu não sabia que tinha afinidade com as letras, apenas ouvia meu pai recitar seus versos no teatro local e encantava-me com o malabarismo que fazia com as palavras. Certo dia, peguei o papel que embrulhava as migalhas de pão e escrevi um poema sobre as trilhas da vida. Quando o trem já estava em movimento , levantei o bilhete amassado e vi, através do vidro empoeirado da janela do trem, que ele olhava-me de soslaio sob a aba do chapéu. Com um sorriso tímido, de canto de boca, ele tentava decifrar aquelas mal traçadas linhas...
          Por onze dias, a janela do trem passou vazia para minha tristeza. Meus dias tornaram-se cinzentos. E era difícil encontrar algo que fizesse minha alma amanhecer e florescer na primavera que se aproximava. Resolvi não mais sentar no banco da estação e evitava levantar a cabeça para não enxergar os trilhos que tanto me lembravam aquele olhar que, um dia, me fez sonhar... Numa manhã, onde as flores já exibiam seu perfume no ar, resolvi visitar o local que tanto me fez doer... Para minha surpresa, pude ver aquela luz que saía daqueles olhos tão negros, mas que era capaz de iluminar a escuridão de minha alma. Tirou do bolso o bloco. E na miúda folha, quase em branco, as palavras em letras maiúsculas e bem grandes: EU TAMBÉM.      
          Aquele foi o primeiro dia do resto das nossas vidas. Foram muitos anos viajando no mesmo vagão. Quando queríamos relembrar os bons momentos, pegávamos as fotografias em preto e branco tiradas nos trilhos daquela estação. Um carro, cuja placa datava 1920, marcava o início de uma vida feita de encanto, sonhos e sorrisos. Eu passei pelo tempo, mas o passageiro do trem permaneceu uma vida em mim...
         Hoje, ele terá que seguir sozinho. Tive que descer na estação “PARAÍSO”. Deixei meus versos para colorir os dias dele. Sei que ele sorrirá ao ver , em todas as folhas, o número 11. Tínhamos afinidade com esse número. Talvez por lembrar os trilhos, o caminho que devemos seguir, um ao lado do outro e por recordar a eternidade onde, certamente, nós vamos nos reencontrar...

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Se me tiram o chão, eu crio asas...

Há uma luz que guia o caminho. Ela está refletida nos olhos do amor que dura, do amigo de todo dia... No papel, um vazio. Um sempre em branco. Há tanto tempo a pena não funcionava.
O espanto foi que o encanto tinha mudado de lugar. A poesia foi morar no profundo olhar, na luz dos olhos... Parecia curioso porque aquele brilho sempre a acompanhou. Sempre houve poesia no ar. Talvez a menina desaprendera a linguagem dos olhos. Esqueceu de olhar demorado, de ver além...
Na janela, o vento sopra canções que salvam, em tom maior. Nelas, letras que fazem regressar. As mãos que alcançam são as mesmas que cuidam...
Sabia que sentiria saudades da tardes de verão. Sabia que o pôr do sol seria diferente, com a mesma beleza, mas diferente. A linha do horizonte era algo difícil de alcançar. Um perto que era distante. A trilha é paralela. A dificuldade da interseção mora no limite. Preferiu o eterno brilho das estrelas à explosão dos fogos de artifício. O contemplar, de longe, bastava...
A menina que por tanto tempo andou nos trilhos do trem, desceu na próxima estação. Colocou os pés na areia fina da praia, deixou que a espuma do mar a tocasse pela última vez, suspirou, voou e voltou para seu ninho...
Ali, no (en) canto dos olhos, viu que, silenciosamente, o amor compunha a tão esperada canção. Aquela que tocaria por toda a vida...O toque, o sabor, o tom de voz. O amor reaparece nos lugares mais inusitados. A menina que sonhava tão alto, agora sabe que seu canto mora ao lado. A música de antigamente fez lembrança na alma.
Fechou a janela. Olhou para trás apenas para eternizar os momentos vividos...Abriu a cortina dos sonhos. A luz que brilhou dentro foi capaz de poetizar a vida e fazer brotar as flores na estrada. Nas mãos que entrelaçaram e nos pés que caminhavam juntos, uma única estrela brilhou naquele céu de outono. Em um domingo santo, a menina viu que foi preciso morrer para a vida voltar acontecer...


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quarta-feira, 20 de março de 2013

Me nino...

Hoje eu quis brincar sozinha. Deixei minhas bonecas em casa. Levei apenas meu barquinho de papel. Foi meu pai que me deu. Saí. Andei e parei no riacho bem pertinho da minha casa. Peguei meu lápis e escrevi alguns versos naquele papel dobrado. Eu gosto quando o cabelo dele cai sobre os olhos. Há mistérios  que encantam a alma. O jeito dele tirar os fios do rosto me faz  sorrir. Acho que ele gosta do laço de fita que minha mãe sempre coloca nos meus cachinhos. Vi pelo desenho que ele entregou à professora. Mas, agora isso nem tem tanta importância. Quero mesmo é colocar meu barquinho cheio de versos bonitos e torcer para que ele ancore no porto dos olhos dele. Gosto da maneira que eles brilham. Nem ligo se meu pequenino barco é frágil. O que ele carrega é forte o bastante para alcançá-lo.Vai, diga a ele que meu amor espera pelo tempo, ao vento...
Na terceira margem do doce rio, eu me nino e adormeço. Quero estar nos sonhos dele quando o navio ancorar...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulher...



Em tons reais, a pureza dos sonhos. Na complexidade do ser, a simplicidade da alma. É ponto de luz que clareia uma vida. É estrada de ferro salpicada de flores. Tem na profundidade do saber, a delicadeza dos sabores. Mulheres e seus contrários. Tão frágeis! Tão fortes! Com sua doçura e força é capaz de fazer amanhecer em plena escuridão. Mulher...Que respira fé e transpira sorrisos. Sua canção é feita em Sol Maior. Música que  aquece, embala e ilumina. Mulher é farol que guia, seguro porto que acolhe. É mapa da alma traçado pelos versos de Deus...Tem na firmeza do olhar, a poesia que acalma. Mãos que trabalham. Mãos que tecem a vida com os fios da esperança. Mulher é aquela que voa alto, que alcança as nuvens, que colhe estrelas, mas sempre com os pés enraizados no chão. Seus olhos refletem a paz. Seus braços estendidos para o perdão, para o amor e para o abraço que faz morada...Ah, mulher! Bem-aventurada é você que no emaranhado de dor e alegria sabe ensinar que “lutar e viver” é possuir o dom da “estranha mania de ter fé na vida”...
Nós, Rotarianas do Rotary Club de Lavras-Sul, parabenizamos todas as mulheres que sabem ver beleza nos avessos e direitos...Feliz Dia Nosso! Feliz Dia das Mulheres!...
                                    Texto: Chrystiani Capelli, presidente eleita RCLS  2013-2014.

domingo, 3 de março de 2013

Uma varanda sob o silêncio...

Foto: chrys capelli


             Quando as vozes do mundo se calam, é hora de vivenciar as pausas da música. Convoco as lembranças. Viajo no tempo...
            O que vejo impressiona-me. Ali, no alto da serra, um pai de família caminha no escuro. Já conhece as pedras que daquele trajeto fazem parte. Conhece as curvas, o relevo irregular, os perigos daquela trilha em meio à mata escura. Após um dia de luta na labuta, ele carrega no ombro seus cansaços e suas ferramentas de trabalho. Tem um andar vagaroso, mas firme e determinado em chegar a seu lar. Os filhos, ansiosos pelo abraço caloroso do pai, sabem que em breve muitos sorrisos serão saboreados à beira do fogão de lenha. Chegar em casa é refúgio para alma. Lugar onde os sonhos ganham vida e verdade. Um oásis.  Ali, onde o amor faz morada, todos os pesos são esquecidos, porque a felicidade tem o dom de nos deixar leves. De criar asas. De alcançar as nuvens com os pés em terra firme. De mansinho, ele abre a porteira e em plena escuridão avista a luz fraca da varanda da pequena casa atrás dos montes.  Ele fixa os olhos na tentativa de certificar que ela já está à sua espera. Uma varanda, o silêncio e uma beleza que clareia os caminhos da vida. O cenário é o mesmo: vestido até os joelhos, cabelos presos, um livro, o silêncio e um sorriso sorrateiro como se já se encantasse com a chegada do amado. Abrir a porteira é o mesmo que tocar as estrelas. O encontro. A vida simples e bela. Eles aprenderam que felicidade e sonhos precisam de pés que caminham juntos, de mãos que se entrelaçam e um silêncio que decifra as palavras ditas pelo olhar...
          Sinto que Deus chegou de levinho, pendurou o chapéu na parede, ajeitou o banquinho, pegou o violão e fez uma canção. De longe, vejo que o horizonte mostra a silhueta da serra e por trás dela, uma história perpassa o tempo. Contemplo o luar. O silêncio me fala muito de Deus. Retira meus olhos da escuridão e me faz admirar as estrelas. Precisei dar a volta dentro de mim para perceber que silêncios e palavras se completam. Sábio é aquele que entende os recados que a quietude fala e desvenda a mansidão das palavras polvilhadas pela alma. Não temo a escuridão. Os vaga-lumes me mostram que é possível enfrentá-la, mesmo com uma luz pequenina. A esperança é essa menina de olhos verdes, que pede carona nas estradas da vida. Quando ela acena, a fé entra em cena...
          Anoiteço. Feliz pela visita de Deus. E nos primeiros fios de luz, minha alma já estava alinhavando sonhos...Amanheci!...

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sábado, 2 de março de 2013

Vida tecida de palavras...

                   A tarde cai e com ela a chuva fina vai deixando seu cheiro de mato. Os versos, antes na poeira da estrada cinzenta, agora escorrem pelas margens floridas, prontos para serem recolhidos e guardados na alma. A luz vai descendo atrás dos montes. A chuva já cumpriu seu doce papel de fecundar a terra. O cenário vai sendo montado deixando as pequenas luzes estrelarem na escuridão do firmamento. Ao longe, as cordas de um violão são dedilhadas por mãos que querem voar...
Ali, no meio do mato, a casinha durante a noite é dourada. Na varanda, ao pé da escada, contos e prantos que viram cantos. Onde o estalar da lenha no fogão acende a chama da fé. São vidas narradas. Histórias vividas. O singular alinhavado no plural. Emaranhado de nós que um dia deixará saudade. Em meio a tantos risos, um olhar que procura um porto. Uma folha em branco onde possa ancorar seus sonhos. Uma criança brinca com bolinhas de sabão e descobre, na demora do olhar, que a beleza é passageira. Já tem olhos de poesia. Olhos de amar...Um cachorro, uma coruja, um grilo que tenta acompanhar a cantoria da noite. Por trás das montanhas, o único sinal é a fumaça que sai da chaminé deixando rastro de esperança. No ritmo das cordas, a lua se enche de melodia e reluz lembranças em Sol maior. Aos poucos, as vozes se cansam. O violão se cala e o silêncio reverbera. É hora de recolher os poemas deixados na estrada. Hora de convocar as saudades. Olhei para céu. A cada verso pautado, uma estrela vem morar na minha mão...
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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

 O direito de não ser o primeiro...



Alguns fatos que acontecem nos fazem pensar em como estamos levando a vida. Mal começaram as aulas e as lições vão sendo aprendidas. Pelos alunos e pelos pais. Ao entrar para sala, a conversa das duas crianças me emocionaram. As primeiras carteiras estavam livres e elas não assentaram lá. E em um gesto de solidariedade e bondade, as duas reservaram as carteiras e acabei ouvindo o motivo para tal: "vamos guardar lugar para nossas amigas que ainda não chegaram". E elas assentaram na segunda, deixando os melhores lugares para as colegas. Na hora, aquilo veio como uma facada no estômago, pra mim, que sou adulta. Como pode as crianças já saberem que gentileza faz toda diferença e derruba muros altíssimos entre as pessoas? Como pode esses baixinhos já saberem que se doar é muito mais gratificante que receber? A bondade constrói pontes, elas já sabem disso...Precisamos reaprender algumas regras da vida com elas. A da lealdade é uma delas. O mundo seria mais fácil de lidar se mantivéssemos essa inocência e pureza de coração que nossas crianças possuem. O convívio com elas encanta a alma. É por isso que deveríamos sempre ter o contato com a infância. Esta infância, que um dia sem pedir licença, os adultos roubaram de nossas crianças...Adultos que ensinam respeito e esquecem, depois, de praticá-lo. Adultos que já tiveram a docilidade estampada no brilho do olhar e nos sorrisos com dentes-de-leite e hoje perdem tempo lustrando o ego. Passam por cima de tudo e todos para conseguirem melhores lugares, melhores empregos, melhores cargos, melhores, melhores, melhores...Um jogo, que não vale a pena entrar, porque coloca em risco a qualidade de vida. Perdemos tempo com muitas bobagens, com picuinhas que só nos deixam paralisados. Mesquinharias que nos fazem andar para trás, retroceder. A vida não perdoa.Quando menos se espera ela vem e cobra um preço alto e à vista. Deixemos de lado as vaidades espirituais, estas que achamos que somos melhores que os outros. Nunca seremos perfeitos. Perfeito é quem nos criou. Poupar energia para executar o bem, estender a mão a quem precisa. Sempre falo que a vida é uma só. Vamos vivê-la bem, fazendo o bem...Levante a cabeça, mas que seja para contemplar este horizonte das cores da paz. A felicidade encontra-se muito perto e ao alcance de todos. É só espelhar no riso fácil de uma criança, na beleza da alma e na pureza de coração delas. Que a lição seja aprendida... Nossos pequeninos já sabem que, desde cedo, temos o direito de não ser os primeiros...

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Numa dessas reuniões ordinárias do Rotary Club de Lavras-Sul, o companheiro Antônio César teve a brilhante ideia de elaborar uma homenagem a todos os rotarianos. Eu tive a honra de ser convidada para escrever um texto a três mãos. Desta forma, Fred, César e eu, cada um no seu estilo, apresentamos o resultado na Festiva de Natal deste clube...

 
Nesta longa estrada da vida... Um Natal  pra se viver todos os dias...    
 Por  Chrystiani Capelli

Peguei na mão de cada um e juntos fomos por aí, percorrer a longa estrada da vida. De carona nas carretas de Celso Rodrigues e apoiados em sua bondade fomos parar lá no fantástico e maravilhoso mundo do coração, onde os solos são preparados com o cuidado, dedicação, a  lealdade e competência de Juventino. Com o carinho e conhecimento hídrico do Léo, todos ficam à espera do toque final, mágico e delicado de Alessandra. Pronto, a paisagem está perfeita. Cestos de sonhos repletos de flores e cores. Com eles aprendemos que, para se colher bons frutos  devemos, antes de plantá-los, preparar  com muito amor a terra.  Logo ali, não muito distante do jardim, o alfaiate dos sonhos costura a vida com as linhas da simpatia e sensibilidade. Seus ensinamentos são baseados na lei básica da vida: somos como retalhos, feitos de muitas partes e pedaços, mas que juntos formamos o todo, o conjunto, o Rotary. Que sabedoria, hein, Celso Furtado! Vez em quando, olho pela janela e vejo Deus a cuidar dos animais. Ele se manifesta no amor, na dedicação e cuidado refletidos nos gestos de Priscila e Raquel. Ana Vânia, ao criar cavalos, nos mostra que podemos, sim, galopar por belas estradas, deixar nossos sonhos criarem asas e voar por aí a realizar a vida. Com essas mulheres  aprendemos que olhar nos olhos de um animal é ver o reflexo de Deus, de um amigo. Cuidar deles deixa a alma mais nobre. Há aqueles que estão no mundo do coração para ensinar, para mostrar que o conhecimento quando retido só pra si mesmo, perde-se num imenso labirinto. Os professores da vida constituem a base dos nossos sonhos.  Com eles aprendemos os primeiros e marcantes passos. Da infância à universidade, são com eles que caminhamos pelo longo caminho da vida. E assim, somos guiados pela brandura de Elisângela, pela generosidade de Gilberto,habilidade de Johnson, dedicação de Juventino, inteligência de Luciano, equilíbrio de Magno, disposição de Raquel , serenidade de Priscila, a postura ética de Sélem e lealdade de José Oscar. Certamente seus exemplos nos levam à procura de rumos mais sábios e mais leves de serem percorridos nesta longa estrada. Ganhamos a vida de presente, e, com certeza ela foi doada lá na Loja “A Modelar”, lembram dela? Claro que sim! Lembra, Paulão? Você vendia sonhos embrulhados para presente.  É assim mesmo, Deus envia alguns anjos, de carne e ossos, que fazem nossos grandes sonhos caberem numa caixa para que possam ser enviados. E, apesar de trabalhar, sem pressa, de modo artesanal, Ele avisa que se precisar de rapidez e eficiência é só falar com Marino e tudo se resolve pelo sedex 10.  Deus diminui nossas distâncias. Enquanto os diagnósticos se revelam pelas mãos competentes de José Alair , a bondade e confiança se revelam nos seus olhos e gestos.  Cleide, manipula suas fórmulas e com sua docilidade nos mostra que a felicidade ultrapassa a todas misturas. Basta viver, como Deus ensina, um dia de cada vez, fazendo o bem.  Agora, bom mesmo é saborear os saberes da vida. Aromas que levamos por toda caminhada. Quando a cozinha se transforma em um laboratório, é hora de colocar a alma de joelhos. Deus se revela no preparo, na pureza dos alimentos, no amor de quem cozinha. Já disseram que a cozinha é lugar de conversão. Hei de concordar. As pessoas mais generosas que conheço fazem da cozinha seu local de ofício. Na satisfação em servir, Dilma e Marcão, nos mostram que portas abertas, luzes acesas e mesa posta são sinais de amizade, companheirismo e generosidade.  Jesus foi assim. Ele reuniu com os amigos antes de ir embora. O mesmo ocorre com Maurício, Fred, Eduardo e Hermínio, médicos que salvam vidas e que nas horas vagas fazem da cozinha seu local de relaxamento, uma gostosa terapia. Eles nos ensinam que é possível transformar os sabores em ouro. Prova disso, é Dona Maria, que ao cozinhar nos revela que Deus mora na simplicidade. Talestre nos mostra que administrar nossos sentimentos requer talento e maestria. E assim, ajuda o Galpão Cidadão a confeccionar vidas e sonhos...Na coordenação de um grupo maior, há aqueles que hospedam sonhos. Assim, entra Adriane na nossa história.E vamos viver direito esta vida? A quem seja especialista nisto. Geralda, que retorna para os braços deste clube, nos mostra que tranquilizar o coração é encontrar um oásis no recôndito da alma. Antônio César, como ninguém, entende  o que o Direito faz com o esquerdo. A razão anda de mãos dadas com o coração.Sempre. Eu, que já confundi várias vezes o seu nome, hoje tenho a ousadia de acrescentar mais um na sua totalidade. Seu coração é dotado de caráter nobre.  Sendo assim, a partir de agora , ele passa a se chamar Antônio César Nobre de Pádua. Há belezas que são aperfeiçoadas pelas mãos cautelosas e hábeis  de Hermínio e Cláudia. Nelas, a estética se faz presente. Mas, eles nos ensinam,  através de gestos generosos, que a mais bonita das belezas é esta, que cativamos no coração. Ter alma nobre é exercício diário.E Deus nos criou para a felicidade. Quando a vida nos diz um não, eles entram em cena. E através das mãos deles, aprendemos que sorrir é a arte de ser feliz.  Habilidades que extrapolam o ofício de construir sorrisos e revelam em gestos de generosidade.  Aprendemos com a bondade de José Luís Rigato, Gustavo, Paulo Capelli, Chrystiani, Jonhson, Sélem, a alegria de Márcio e com a competência de Luciano, que as mesmas mãos que esculpem os sorrisos são as que acolhem o próximo. Amor incondicional e dos bons. Aprendemos com eles que sorrir alivia os pesos da alma e Lourenço nos ensina que economizar os sorrisos e abraços, é bobagem. É conta que não se fecha. Quanto mais carinho, melhor e mais florida nossa estrada. Vez em quando, Deus manda alguns anjos para acolher e orientar seus filhos que se perderam pelo caminho. Assim, Lourenço e Gustavo, num gesto de generosidade e coragem, estendem as mãos e acolhem dentro do seu coração todos os internos da Fazendinha Pe. Israel. Há quem veja o mundo em preto e branco. Mas, o universo cinza é só oficio mesmo. Por onde passam, deixam o rastro de luz e a vida passa a ter um colorido especial. Maurício, Paulo Capelli e Chrystiani e Eduardo, dotados de um olhar demorado e da capacidade de ver todos através da visão de raio-x, nos ensinam que a vida pode ter a cor que quisermos, basta ter um coração generoso e disposto a ajudar nesta longa estrada que é a vida.Conhecedora dos mistérios da mente, Elenice mostra que as respostas para tudo se encontram do lado esquerdo do peito. Isto mesmo, onde moram nossos amigos. Com a alma, transparente em sonhos, nos ensina o verdadeiro significado da palavra leveza. No mundo do coração, o emplacamento seria por conta do Marcos Cherezi que usaria as iniciais L.U.Z, e formando a palavra LUZ todos seriam instrumentos para guiar e iluminar a estrada da vida. E nos céus há também ensinamentos. Através dos conhecimentos de Virgilio, ele nos mostra que nossos sonhos podem voar alto. Na aeronáutica, as rotas são as mesmas das estradas da vida: ter paz nos servir. Por vezes, eu vejo Deus atravessando as praças arborizadas de uma cidade qualquer, no plantio de árvores, na preservação da natureza. O CODEMA existe, mas Luiz Carlos Gonçalves nos mostra que as leis estão dentro de nós e nos ensina que serenidade é preciso pra manter o equilíbrio entre razão e emoção. Faz das palavras um código de honra, onde lavra a ata com muita ética e respeito. Paulo Marcos, com seu espírito acolhedor, nos mostra que o cuidado com os alimentos é fundamental para levar uma vida saudável. Mas, nos lembra que, o melhor e mais eficiente cuidado é como alimentamos nossa alma. Sendo assim, não devemos poupar os abraços, os sorrisos, os gestos solidários, um olhar que acolhe, uma palavra que cura. E, caso a gente não consiga registrar o momento, Wilson com sua alegria nos mostra que com um click que é possível retratar na alma as belezas criadas por Deus. E depois de tudo isso, olho para  Fred e Antônio César e vejo  que eles sabem fazer música com as palavras e assim eu termino esta canção...Ufa! Vocês viram quantas qualidades possuímos aqui dentro? Está na hora de lançar o desafio. O exercício para o Ano Novo, para a vida que se reinicia, é fazer prevalecer todas as nossas virtudes. E evidenciar virtudes é encontrar Deus a todo momento; e quando buscamos Deus, o Natal acontece todos os dias. E não importa se o caminho é longo, difícil e cheio de pedras. Geralmente, as belezas se encontram nas margens, onde crescem flores, cores, saberes, sabores e amigos. E só por isso, vale a pena Viver...
     

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A casinha na árvore...
                 Desfrutar do espaço sagrado de uma casinha de árvore é maneira frutuosa de rezar. É redescobri-la templo do tempo, lugar onde a imaginação correu e ainda corre solta. É ali, sozinha comigo mesma e com as costas apoiadas sobre as marcas esculpidas no velho piso de madeira, que deixo a imaginação viajar por uni-versos de contos e des-contos. É o território, pessoal e intransferível, da infância, quando a vida se passa num faz-de-conta quase real. Benditas são as crianças que demoram a acordar para vida, porque delas será o reino dos sonhos. E enquanto sonham, despertam apenas para o mundo da poesia. Essa é a maneira de rezar que, talvez, mais me aproxime de Deus. Entro na casinha da árvore e todos os sentidos despertam, me fazendo colher palavras que o vento insiste em sussurrar ao pé do ouvido. Sim, sou dessas pessoas que ainda acreditam e colhem sonhos!

               Minha catedral é feita assim, de madeira e de silêncio. E nela eu pego carona com a brisa e vou cultivando pomares pelas estradas da vida. Deus se revela ali, e eu me revelo a Ele. Entre o preto e branco descubro o mundo fantástico das cores e das flores, dos sabores e seus saberes. Meu mundo de sonhos se reaviva na árvore que um dia foi plantada no fértil coração de criança; e isso me garante passe livre entre o céu e a terra...