segunda-feira, 6 de julho de 2020

Uma varanda sob o silêncio…

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                  Quando as vozes do mundo se calam, é hora de vivenciar as pausas da música. Convoco as lembranças. Viajo no tempo…
                 O que vejo impressiona-me. Ali, no alto da serra, um pai de família caminha no escuro. Já conhece as pedras que daquele trajeto fazem parte. Conhece as curvas, o relevo irregular, os perigos daquela trilha em meio à mata escura. Após um dia de luta na labuta, ele carrega no ombro seus cansaços e suas ferramentas de trabalho. Tem um andar vagaroso, mas firme e determinado em chegar a seu lar. Os filhos, ansiosos pelo abraço caloroso do pai, sabem que em breve muitos sorrisos serão saboreados à beira do fogão de lenha. Chegar em casa é refúgio para alma. Lugar onde os sonhos ganham vida e verdade. Um oásis. Ali, onde o amor faz morada, todos os pesos são esquecidos, porque a felicidade tem o dom de nos deixar leves. De criar asas. De alcançar as nuvens com os pés em terra firme. De mansinho, ele abre a porteira e em plena escuridão avista a luz fraca da varanda da pequena casa atrás dos montes. Ele fixa os olhos na tentativa de certificar que ela já está à sua espera. Uma varanda, o silêncio e uma beleza que clareia os caminhos da vida. O cenário é o mesmo: vestido até os joelhos, cabelos presos, um livro, o silêncio e um sorriso sorrateiro como se já se encantasse com a chegada do amado. Abrir a porteira é o mesmo que tocar as estrelas. O encontro. A vida simples e bela. Eles aprenderam que felicidade e sonhos precisam de pés que caminham juntos, de mãos que se entrelaçam e um silêncio que decifra as palavras ditas pelo olhar…
               Sinto que Deus chegou de levinho, pendurou o chapéu na parede, ajeitou o banquinho, pegou o violão e fez uma canção. De longe, vejo que o horizonte mostra a silhueta da serra e por trás dela, uma história perpassa o tempo. Contemplo o luar. O silêncio me fala muito de Deus. Retira meus olhos da escuridão e me faz admirar as estrelas. Precisei dar a volta dentro de mim para perceber que silêncios e palavras se completam. Sábio é aquele que entende os recados que a quietude fala e desvenda a mansidão das palavras polvilhadas pela alma. Não temo a escuridão. Os vaga-lumes me mostram que é possível enfrentá-la, mesmo com uma luz pequenina. A esperança é essa menina de olhos verdes, que pede carona nas estradas da vida. Quando ela acena, a fé entra em cena…
               Anoiteço. Feliz pela visita de Deus. E nos primeiros fios de luz, minha alma já estava alinhavando sonhos…Amanheci!…

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