segunda-feira, 6 de julho de 2020



Vida tecida de palavras… 

(Chrys Capelli )



A tarde cai e com ela a chuva fina vai deixando seu cheiro de mato. Os versos, antes na poeira da estrada cinzenta, agora escorrem pelas margens floridas, prontos para serem recolhidos e guardados na alma. A luz vai descendo atrás dos montes. A chuva já cumpriu seu doce papel de fecundar a terra. O cenário vai sendo montado deixando as pequenas luzes estrelarem na escuridão do firmamento. Ao longe, as cordas de um violão são dedilhadas por mãos que querem voar…Ali, no meio do mato, a casinha durante a noite é dourada. Na varanda, ao pé da escada, contos e prantos que viram cantos. Onde o estalar da lenha no fogão acende a chama da fé. São vidas narradas. Histórias vividas. O singular alinhavado no plural. Emaranhado de nós que um dia deixará saudade. Em meio a tantos risos, um olhar que procura um porto. Uma folha em branco onde possa ancorar seus sonhos. Uma criança brinca com bolinhas de sabão e descobre, na demora do olhar, que a beleza é passageira. Já tem olhos de poesia. Olhos de amar…Um cachorro, uma coruja, um grilo que tenta acompanhar a cantoria da noite. Por trás das montanhas, o único sinal é a fumaça que sai da chaminé deixando rastro de esperança. No ritmo das cordas, a lua se enche de melodia e reluz lembranças em Sol maior. Aos poucos, as vozes se cansam. O violão se cala e o silêncio reverbera. É hora de recolher os poemas deixados na estrada. Hora de convocar as saudades. Olhei para céu. A cada verso pautado, uma estrela vem morar na minha mão…

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